terça-feira, 28 de julho de 2015

Rosália

E a carne vermelha que saía de suas entranhas lhes lembrara Rosália.
 Não que seu nome fosse de fato esse, mas gostava de chamá-la assim devido à cor rubra de sua cútis.

 Rosália Nuvens de Outono... Este é o nome que guardo em minha memória. Uma menina que conheci um dia na infância... Com 3 segundos, 3 dias e 3 tapas na cara, esfacelou completamente meu coração...
Seu jeito rude de ser doce, me fazia mato, rasteiro, profundo, superficial, duro, frágil e resistente, mudo e cadente, frio e ardente...
    Reunia em um só Ser todas as minhas paixões e angústias de menino...
 Como Ser, era um contraponto... Uma antítese... Um ponto, seguido de dois amigos... tornando-se reticências.

 Rosália era uma moça que me tocava com música e poesia ...
Uma paixão que nos arrebatou o coração...
 Loucura... Alucinação ... Desejo e canção...
 Rosália me assustava de desejo... 3 segundos, 3 dias, 3 tapas na cara... E pronto. Estava eu completamente entregue...

E tive eu, Rosália, em meus braços, minhas vísceras se misturavam as dela com a fúria de lava fervente...
 Talvez, por isso, tudo fora tão regado a dor guardada em gavetas de madeira de lei...
Entranhas unidas por música e poesia... Algo que já corria por entre as veias... E de difícil precipitação...
Separar- me de Rosalia era quase como me separar da poesia...

 Não, Rosália nunca fora minha amante. Não passamos dias enrolados em mantas felpudas, nem sequer catamos conchinhas no Mar...
Não, Rosália nunca fora também minha amiga. Nem das que dão carinhos, nem das que dão conselhos duros que ardem e curam, nem mesmo das que dão risadas vazias em uma mesa de bar. 

Rosália: um vício, uma droga... Um pó vermelho e branco que misturei a alguma substância em suspensão no meu canal de ver o mundo.
Me toma... Me consome... Me desperta sensações incríveis... Me fere, me mata.
Uma onda louca, lancinante e turbulenta... Overdose.

Um portal para uma dimensão onde aprendo desenhos para redesenhar o meu mundo pseudo-real... Um delírio dos tempos de guerra... Um estilhaço marcado na pele de dentro... Um troço de virar coisas ao avesso, um fazedor de turbilhão ... Acendedor de chama que apaga... Talvez uma viagem de saciar algum desejo insano... Rosália Rebordose.
 Talvez apenas um surto de musgos verdejantes de minha alma...

 Rosália era colecionadora de corações... Mantinha-os pendurados em seu peito como troféus de guerra. Sem dó dos Seres que perambulam com um vazio no lugar onde havia um órgão pulsante. 

Rosália fora cuspida de minhas entranhas... E morre gelada no passado...

A massa vermelha que saía de dentro de mim... Eram os restos peneirados de Rosália que escorrem entre os dedos encharcados de poesia ...

 Rosália agora vive morta dentro e fora de mim.
 Guardada como uma rosa seca em um livro na estante.