sexta-feira, 31 de julho de 2015

Obra da vida

E então já não sabia mais viver sozinha... 
Em espaços completamente seus, insistia em colocar um pensamento alheio...

Os mares passaram a ter cheiro de água.
Quis então sentir cheiro de gente no mar...
Passou a procurar um cheiro insuportável de vida...
Um gosto de vento na pele.

Por vezes parecia mais quente e acolhedor do lado de dentro.
Mas Por fora o frescor dos dias dava tapas de liberdade na cara...

Precisava de silêncio...  Sua mente agitada gritava,  indicava várias direções. 
 E ela pedia paz, silêncio, verdade, simplicidade.  
Queria apenas se encontrar. 
Ser o que o mais profundo do seu ser pudesse ordenar com palavras doces.
Passeando por dentro de si, encontrava de tudo.
 Já não sabia de fato o que lhe dava prazer...

Sentada em sua sala olhou para a estante.  Viu diversos registros da sua paixão pela escultura. 
Pequenos bonecos de argila, feitos a mão sem nenhuma técnica ou precisão. 
Belas esculturas em cerâmica, representando cidades, povoados e nações.  
Caixas e mais caixas de Mármore de Carrara para reproduzir com riqueza de detalhes as mais perfeitas edificações.  
E tinta... muita tinta. 
Possuía tinta de todas as cores, diversas texturas. Equipamentos de corte,  lixas, moldes,  pedaços de pano, papel, plástico e isopor. 
Uma seção apenas para massa de modelar, e outra com objetivos adquiridos de outros escultores.
Sempre mantivera tudo organizado em suas prateleiras. Sentava-se em seu belo sofá de pena de gansos do dia, lia um pouco de vida, da sua ou de outro sabor... 
Admirava sua estante para entender algum tipo de conceito em sua arte e punha-se a desenhar, recortar, pintar, colar...
Possuia ao alcance dos dedos todas as cores e equipamentos.
Por vezes machucou -se construindo belas edificações. 
 Mas o prazer da construção amenizava sua dor.
Convidava vez ou outra amigos para pequenas exposições. 
Cada um dava a sua opinião, discursava a cerca de sua conceituação, explicavam, perguntavam, anotavam, classificavam, entendiam ou não. 
Mas de fato sua obra não tinha conceito... Apenas sentava-se no silêncio,  quando era possível encontrar. 
Fechava os olhos e flutuava em sua alma. 
Em outros dias, pintava quadros no meio do furacão.  
Tinha a esperança de que a tinta na tela a mantivesse longe do chão. 
Cantava em palcos escondidos,  sentava no chão e tocava seu violão. 
 Abria se novamente para a exposição. 
Não tinha apego a arte... Não tinha apego... Não tinha... Não...
Não queria saber... Mas o saber a procurava...
Em meio ao saber apenas amarras e caos.
Queria apenas voltar a si... pegar seus alfarrábios,  sentar se no chão,  ligar a música do tempo, dormir no silêncio e acordar com uma nova canção. 
Mais uma vez o tempo para,  o coração dispara, a razão diz PARA!

Vida rogai por nós

A vida é um conto é alucinação
a gente vai juntando tudo sem ter dimensão
ela não é o ponto é interrogação e vai mudando de idéia a cada direção...
Palavras,  palavras, palavras...
E Nós, e Vois.
E nós, e voz...
Laços, amarras,
Traços,  estradas,
Vida, vida, vida...
É  o certo,  o errado.
O medo,  o cerne, a questão...
A resposta, o sopro, a canção.
A palavra, o choro, oração. 
O sexo, o desejo,o nexo,a paixão...
O cansaso, o amparo, coração...
O sorriso,  o abraço, emoção...
A dúvida,  o medo, piração...
O dinheiro,  o tempo, aflição...
Leve, raso.
Profundo, pesado.
Seco,molhado.
Contra ponto, contra peso, contra senso, contra...
Brinquedo, sorriso,  desejo,  paraíso.
Amor, passado, receio, juizo.
Pergunta, resposta, o verbo, a prosa.
O beijo, o sexo,  inocência em minhas mãos...
O sim, o não, o pedido e a decisão...
O querer, e o não querer... Sempre, eis a questão...
Kronos,  corpo, carreira...
Banco,carro, casa...
Eu, Tu, ela.
Ela, Ela, Elas...
Nós, voz, sós
Vida,  vida,  vida...
Rogai por nós.

Tum Tum

Mais uma vez o tempo para,  o coração dispara, a razão diz PARA! 
Meu coração batuca vermelho e branco,  com acordes turquesas de mais uma canção.  
A magia do palco,  eu e você em comunhão.  
Ao seu lado o meu tum tum bate mais forte, mesmo quando o tic tac indica outro norte.
Há quem diga que as presas se apoderam dos seres.... 
Dentes e Sangue... 
Gozo, coito.

Reação em cadeia

Mais uma vez dentro no peito  girando o coração. 
O mesmo cara tantas vezes colocado suavemente em suas mãos. 
A vida na bandeja. 
Movimentas , mudas o probre de lugar e inicia mais uma reação em cadeia. 
Segue reorganizando as peças de um jogo . E se quer se dá conta de seu poder de revolução. 


Senta e chora... Cada vez que o mundo se movimenta em uma direção ou tempo diferente dos seus. 
Diz se inferior,  quando possuis o poder supremo. 


E eu amo, burra, louca,  dependente....
E de tanto ir e vir, outros olhos se abrem. E canso me de mexer no mundo para depois voltar a trás. 
Canso me de ressucitar corações e tornar a  levá los a morte...
Sigo com minha alma tatuada na sua, a sua marcada a ferro e fogo em mim...


O tempo grita que estamos expostas demais para continuar ... 
O medo sussura, que pode haver outro lugar para morar.  
Com pavor de dizer o que não quero mais calar. 
Não quero mais mentir, fingir, subtrair, trair.
Quero a verdade nua e crua a mostra na minha cara, para quem quiser olhar.

Pesquisa da vida

E a pesquisa é sobre a procura da vida...
O instante onde e como ela ocorre.
Com tantas dimensões de vida,  se focar em apenas uma é limitar- se de forma bárbara.
Tanto paro o seu próprio olhar,  quanto para quantização do outro, dos fatos e da sociedade.
A vida em sí não cabe em algo.
Não cabe se quer em si.
A vida é múltiplo indivisível. 
Antítese dentro da coesão.
Algumas almas falam com o corpo.
O contato com a alma vai além.  
Apesar de poder se iniciar no canal corporal. 
A união de alma e corpo simboliza ainda uma terceira dimensão. 

Manual do Amor


Primeiro solte o coração,  permita que o mesmo movimente -se em qualquer direção.
Não observe regras. VEJA. Sinta. deixe...
Amanheça, adormeça e sonhe.
Sonhe por fora e sonhe na cabeça. 
Viva o instante... Não anoiteça...
Siga o lado profundo, ou o raso quem sabe te dê mais naquele momento.

Não há regras para o amor...
Se avistar alguma, retire-a do local, pois está em local proibido. 

Munição

E tudo cai como pétalas de ouro sobre mim.
Alguns, tapas na cara...
Outros,  carinhos molhados...
Amores roubados, doados, pedidos...
Amores que vem...
Amores que vão...
Douçura ou revés...
É só munição...
Senta e dispara tuas letras...
Vida se faz verbo com palavras...
Alma que suspira em devaneio...
Corpo que se come, garfo e faca...
Encontro que se faz no desespero...
Um outro que se faz em concordata.
3 passos, outro dia, um outro longe...
Os passos que fincamos na estrada...
O dia nasce...
A noite sofre...
O dia morre...
A noite volta...

Para que nome?

E já não via mais o mundo como o mesmo se apresentava.
As cores, as formas, os fatos, os nomes, os gostos, as sensações. 
Tudo lhes parecia tão maior do que seus nomes limitadores...
Passou então a criar sua própria forma de nomear.  

Lembrou-se de um livro de sua infância, onde o protagonista discordava do nome das coisas. Concordava fortemente que palavras não podiam definir coisas, quem dirá sentimentos, tão infinitos em si.

Pessoas eram enormes e não podia ter apenas um nome.  
Passou a esquecer-se de todos os nomes.  Chamava de queridos os que eram queridos, os mais chegados possuiam nomes diferenciados a cada sentimento ou sensação que despertassem no momento. 

Conhecera Tutuzinho nos tempos de engresso na vida adulta. 
Descobriu com o tempo que o diminutivo não combinava com a pessoa. Uma pessoa dura e manipuladora... 
Deveria se chamar Malévola, mas não pegaria bem este nome, decidiu então por não mais se relacionar com essa pessoa por falta de um bom nome para usar.

Nuvem branquinha

Ela olhava para o céu e conversava com as nuvens...
Ia ser ótimo escrever em você.
Es tão branquinha....
Um pedacinho de papel...
Bastava colocarmos linhas  ...
Que tal???
Eu ia ama-la mais se tivesses linhas...
Poderia voar e fazer amor enquanto escrevo...

Fazendo amor com as palavras

Palavras são bem mais que pessoas... 
Elas podem se transformar em qualquer personagem. 
E tem um sabor diferente em cada boca.
Como um beijo... Que muda de gosto a cada boca que beija...
Muda de cor a cada dia...
Tenho uma sensação de gozo quando escrevo... 
Sinto como se fizesse amor com as palavras...
Elas percorrem o meu corpo, e não me importa se são feias ou bonitas...
Só me importa sentir quando elas me tocam,  me usam como instrumento, caem em algum lugar no Universo e fazem morada em uma pintura literária.

Palavras na mente

Estou Eu com as palavras na mente.
Se for falar, será assim.
Uma forma particular e um tanto louca de conversar.
Falarei como se estivesse em um transe...  Que é quase como me sinto de fato...
As palavras sussuram desenhos em meus ouvidos...
E vejo apenas as letras caindo... E formando coisas que posso ou não explicar.
Depois elas se agrupam em algo...
Talvez um desenho, quem sabe uma história...
Então vou roubando tudo o que deixo cair na tela dessa caixinha...
Pego tudo, junto  em uma outra caixa, de papel ou de vidro..  E tento reorganizar como um quebra cabeças de peças literárias...
E a coisa começa como o nada...
Vem do nada...
Como os sentimentos... 
Como o amor...
Acho que a arte mora junto com o amor...
Provavelmente vivem em uma aldeia cheia de sentimentos...
Saem para passear,  e tropeçam na mente das pessoas.
Talvez eles se esbarrem quando a mente sai do corpo e vai passear no etéreo.
Ou quem sabe até , algum ser mágico convide a mente para um café...
Bate 3 x na caixola e diz: - Ei amiga...  Que tal um pouco de viagem?
E ela pode decidir ir... E sentar -se a mesa... Bater um papo psiquê,  loucura e emoção...
Ou pode escolher também ficar dormindo na calota craniana...  Rodeada de neurônios e neuro transmissores. 

Sigo então escrevendo e dialogando com o papel.
Na verdade falo mais comigo do que com outra coisa.
Ou falo mesmo não sei com quem...
Ou quem sabe nem falo nada...
Apenas fico batendo meus dedos sem parar...
E as letras se agrupam como querem na frente da tela.
Essa é uma real possibilidade.
Só sei, que nada passa pelo córtex ou pelo raciocínio.
Então, pode ser uma magia que não consigo ver acontecer...
E a minha ignorância e meu ego insistem em dizer que eu escrevo..
Mas  de verdade, Eu sei que não escrevo...
Apenas olho para as letras... E elas parecem dar as mãos.
Quando vejo... Tem várias palavras rindo e dançando na minha frente.
E elas se amam... Fazem amor na cara de quem quiser ver.
E vejo outras palavras nascendo,  como em partenogênese...
Me sinto também fazendo amor escrevendo.
Quero desenhar letras em tudo.
Posso desenhar com os dedos...
Com os olhos de dentro, com a língua...
Essa é a grande vantagem das palavras...  Podem fazer magia em qualquer lugar...
São terrivelmente sedutoras e Poderosas...Simples letras de mãos dadas.
Trazem toques e sensações. Podemos tocar com palavras, fazer carinho, amar, bater,  torturar e até salvar.
Sentir corpos com simples letras...
Roubar atenção...Ativar concentração e desejo...
Não sou ligada em matéria,  bens ou coisas concretas. Gosto do simples e do profundo.. 
Do que vemos atrás do corpo e além da alma. 

Roda dos ventos

Girava como a roda dos ventos.
Avistava vida em todas as direções. 
Movia-se e espalhava magia para todos cantos.
Complexos redemoinhos de luzes 
espalhava piração,  inspiração,  respiração,  transpiração, meditação,  revolução,  libertação. 
Subiam por suas vias, corpo e mente em comunhão...

O prego e elas

O dia clareava e o prego no chão... 
Pregado no carpete da desilusão...
E elas, a quilometros de distância,  exalavam transpiração...
Transpondo a barreira do espaço...
Eram palavras, desejo,  e canção ...

O coração espanca

E tudo se congela... 
O coração não bate, espanca...
A sede que seca as raízes da festa. 
A pedra antes vermelha, agora cinza..gris... 
Nada ao redor, nem quente nem frio.
Nem doce, nem azedo, nem ao ao leite, nem meio amargo.
Então já não sinto.
Já não moro em mim.
Sinto me o avesso do corpo que habito.
Uma caixa de carne a procura de um dono.

O medo

O medo nos paraliza.
A eterna busca por um amanhã que nunca chegará. 
Sempre que chega ele se transforma em hoje. E essa certeza de só haver de fato o hoje é tão clara e obscura ao mesmo tempo.  

A espera... 
Espera por um milagre...  Por um dia melhor... Um chefe mais legal, um namorado mais compreensivo, que os pais entendam, que a família aprove. 

O medo sempre de mãos dadas com a desculpa da hora certa. 
Não estou pronta para essa relação,  já passei da idade de aventuras, passou o tempo de ser feliz. 

Preciso melhorar meu corpo, aí vou a praia. 
Vou esperar o cabelo crescer, e tiro aquelas fotos.
Vou planejar um pouco mais, e inicio aquele projeto. 
Preciso ter certeza do que sinto para me entregar a essa paixão.  
Meus dedos doem, a coluna reclama, não tenho dinheiro...
E seguem as desculpas enamoradas com o " Dom Juan Del MEDO". 

Os mais intelectualisados dirão, estou analisando todos os prós e contras. Calculando,  revisando...  
E seguem no sufocamento e paralisação analítica.  

Os que vivem com os olhos nos outros, culparão a todos.
O chefe, o marido, os filhos,  os pais,  os amigos. 
Até mesmo aquele vizinho músico,  que não para de tocar, me atrapalha a tocar a vida. 

É o tempo muito frio, ou muito quente. Muita chuva ou muito sol.
É ter pouco tempo, ou muito tempo,  que estimula a procrastinação. 
É saber demais ou de menos... 

Um caminhão de " E se..." que carregamos nas costas. 
Tropeçamos em cada pequeno fragmento de "e se..." que cai pelo caminho.
 Nos agarramos a eles com força motriz. E nos perdoamos pelo medo. 

Nos passamos a mão na cabeça,  culpando o tempo que Urge, a sociedade,  a política e a falta de amor e companheirismo.  

Olhamos para tudo...
Só esquecemos o que importa... 
E o que importa???  

Sigo eu, arrastando a farda da minha  humanidade, buscando a mesma "Verdade" que jamais encontrarei. 
Tentando fazer do hoje o amanhã que eu quero ter. 
Buscando respostas escondidas nos recantos da minha psiquê.  

Sigo Deixando cair letras, procurando sorrisos, pedindo ajuda, errando,  acertando,  me culpando, me perdoando, tendo medo, coragem, preguiça,  gula, luxúria, vergonha, Mentiras , verdades, sorrisos e lágrimas,  gemidos de dor e de prazer, vontade, desejo,  querer, perguntas, perguntas,  perguntas,  perguntas... E você?  Segue fazendo o que???

O destino não nos sorriu

O destino não nos sorriu.
O coração chama, o corpo grita, mas a vida insiste em dizer não.  
Não é para ser... Nunca foi... 
Seu nome não veio escrito junto do meu... 
Somos apenas palavras e sonhos...
E a realidade bate a minha porta,e me espanca o peito com o pulsar sanguíneo.

A mente em outra dimensão

Mente naquela outra dimensão do mundo...
Parece que vem uma mãozinha e puxa minha mente para um lugar um pouquinho mais pra cima. Aí vejo o mundo diferente.  Com uma outra cor... E detalhes que normalmente não vejo.
Ouço palavras articuladas e organizadas de uma forma diferente do usual...

Tempestade e inspiração

Gosto de tê la tempestade...  Alucinação... 
Viagem de Jade, vulcão.
Quando vens e quando foges inspiração... 
Talvez a vontade de te ter tão forte, seja a vontade de te ter com força por dentro.
Me arrastas como pedras cortantes de icebergs...
Naufragas meu Nau. 
Inspira me...

A procura da sombra

Seus olhos nublados de vontade...
No peito, estalactites de gelo desprendiam -se da cabeça ao chão.
Pés  imóveis, mãos atadas, a boca um túmulo.  

Diziam que Podia se ouvir ao longe o som de seu coração.
Ele que um dia pulsara por dentro, agora vive distante. Dividido em Terras diversas. 
Uma de suas partes mudou -se.
Saiu a procura de uma sombra que representasse sua realidade. 

Queria encontrar uma sombra com gosto de nuvem e cheiro de amanhecer. 
Planejava todos os dias o percurso de sua aventura em direção a sombra.
Calculava caminhos e desenhava seu rosto.
A cada dia compunha uma nova cor para seus lábios e uma nova dimensão para seu sorriso. 

Sentava-se por horas a frente do papel apoiado em um cavalete de madeira,  pintado a cor de fumaça rosê.
Debruçava -se sobre o sonho de desenhar sua sombra ideal. 
Mudava a iluminação,  comprava novas tintas, novas cores, texturas, pigmentos.  

Queria ter o desenho perfeito,  para não correr o risco de encontrá-la e não saber quem era.

Memorizava cada traço de seu desenho pré concebido,  e caia no mundo.
Andava, andava, corria, pulava vulcões, lançava-se na direção de tormentas....
E quando a via... Corria, voava,sorria, dançava...

E de tenta alegria... excedia-se... No exceço,  tranbordava-se...  Transbordando -se,  brilhava... Brilhando,  cegava-se... Lançava raios... e... mais uma vez a sombra desaparecia....

Passava a ter dúvidas se ela de fato existia.
Voltava a sua casa, trancava-se em seu escritório,  debruçava-se sobre seu velho cavalete e Refletia a cerca de suas dimensões,  volume, altura, profundidade.  

Pensava se a sombra que avistara era a sua, ou apenas a sombra de um outro alguém. 
Passava os dias idealizando sua sombra... A noite saía a sua procura. Sempre em vão.

Sobre a inspiração

E a inspiração vinha de seres mágicos que rondavam sua mente.
Batiam em sua caixola e começava a escrever... 
Ouvia-os  sussurrando histórias e estórias em seu ouvido de cóclea invertida...
Flutuava, tentava livrar -se de todo o pensamento racional, e viajava no macio do seu auter ego inconsciente.  
Entregava seus controles motores e psíquicos aos Seres supremos da imaginação... 
Sentia seus abraços, seu toque. Seus braços roçando em joysticks mentais. 

Movia-se como um papaleguas com gráficos anos 80. 
Podia se ver perseguida pelo Coyote,  ou caçada pelo Pepe Legal. 
O pica pau bicava sua cabeça pedindo concentração.  

Quando voltava a sí,  ou tentava se envolver na história e dividir os controles com a magia... Ela se perdia... e partia para brincar em outro lugar. 
Levava consigo as cores e os controles Cintilantes... 
Apagava as luzes... e me deixava no vazio preto e branco da minha mente racional. 

Eu podia ver os neurônios piscando fluerescentes...
Ligações químicas que jorravam feito lava de filmes de animação infantil...
Luzes piscantes de raves de longa metragem americano.  

Abria os olhos de carne... e nada desse mundo existia além do avesso de seu Eu.

Amor no espelho

O amor e o Ser.... Tão misturados e dissociados...
Um esperando o outro chegar...
Ambos construindo caixas quentinhas para morar...

Não consigo ver o amor no espelho...
Quando o toco,  não é macio... Nem quente,  nem vermelho...
É algo prateado com uma película desenhada em sua frente.
O amor me parece mais côncavo....  Muito mais...
Quase avesso de tão profundo...
A minha face também não encontro no espelho...
Essa sim é bem distante de mim...
Parece que enfias as mãos em meu peito e gira uma chave que abre uma ligação com outro universo.
Não sei explicar...  Apenas acontece
Passeias por um lugar profundo
profundo que vejo sempre que te procuro dentro de mim.
E a arte está na visão do artista.  Que desnuda a alma e personifica sentimentos e sensações que encontram -se no abstrato.

De tudo um pouco


Trazes sempre um tom vermelho acobreado rascante.
És som de bandoneon sentado em uma esquina gelada de um bairro nublado.
Uma luz escura que escorre,  invade, envolve.
Carne cortada a fio de navalha.
Seus olhos me partem ao meio...
Sua voz rasga... Penetra,  como membro rígido em busca de prazer...
És a chave que liga a criatividade, a inspiração...
És mentira, verdade, ilusão, saudade, desejo,  vontade... 

És o que invento...
O que sonho... Objeto de desejo inanimado...
Sexo, amor, dor...
És fogo, sorrisos largos, tesão...

Menina por fora, por dentro vulcão...
A delicadeza como capa da erupção. 
És força, exalas sexo e sedução... 
Tens a cor e a cara da paixão...
Tens as mãos no tom do  corpo...
No tamanho da vontade...

Vens com a calma nas malas, o sorriso certeiro nas mangas.. 
Vens com a vida na bandeja...
Casa, cachorro, café na cama e bom colo para todas as horas.
Vens com a vida branquinha,  reluta as cores, mas as deseja nos recondidos do coração...
Vens banhada de medos e certezas.

Entrego me...
Entrego me ao desejo e ao corpo...
Enlaço me na loucura e na paixão.  
Busco,  caço, quero, espero...
Crio, recrio, invento, tento, lento...
Minto, desminto, sinto, finto, absinto...

Na minha ilusão o ideal é um misto de tudo com mais um pouco.
Um pouco de dia,  um pouco de noite;
Um pouco de sol,  um pouco de chuva;
Um pouco de colo,  um pouco de tapa;
Um pouco de tudo, um pouco de nada;
Um pouco de corpo, um pouco de alma;

Um pouco de ódio, um pouco de paixão,  um pouco de amor;
Um tanto de desejo, um tanto de sexo, um tanto de carinho;
Um pouco de choro,  um monte de riso e gargalhadas escandalosas;
Um pouco de morte,  e um infinito de vida;
Um peito aberto e coração rasgado transbordando ...

Menos caixas e mais vento no rosto...

quinta-feira, 30 de julho de 2015

E o cheiro de poesia segue colado nas mãos de quem nasceu feito de celula tronco de coração...

Lilás

Ela então acorrentou -se a uma única cor.
Apenas o mesmo tom a interessava.
Certo dia passando por um sonho, encontrou Lilás.  Sentiu um tom púrpura sacudindo os cantos arredondados de sua alma e produzindo pequenas arestas pontiagudas.
Sua alma anteriormente circular mudara de forma no mesmo instante. Passou a contemplar seus traços, e a conversar com pigmentos arroxeados.

Seu coração pintou -se de Lilás,  seus olhos deletaram qualquer outro espectro multi color.
Ofereceram-na um pouco de amarelo em um café da manhã com sol nascente. Balançou levemente a cabeça, levando as orelhas para leste e oeste em um suave movimento negativo. Informou que após conhecer os tons de Lilás,  nehuma outra cor lhe interessaria.
Pintou inicialmente sua sala de púrpura. Comprou um óculos de lentes roxas e não saia mais de casa sem aquela tonalidade no olhar.
As pessoas já não tinham cores, nem raças definidas. Todos possuiam o mesmo tom violeta.
Apaixonou-se por Djavan, e  este passou a figurar constantemente sua playlist.
A obsessão por Lilás foi aumentando.
Certo dia,  em um passeio noturno com seu carro,  antes prata,  agora fruta cor e uva,  ultrapassou loucamente um sinal vermelho. Sofreu um acidente que a paralizou por anos. Perguntaram -na se ela não havia visto a cor berrante do vermelho flamejante que disparara fortemente do sinal de trânsito.
Ela respondeu prontamente que aos seus olhos o mesmo parecia Lilás.
Não conseguia destinguir a diferença entre verde e vermelho,  pois aos seus olhos apenas os tons violeta intenso prevaleciam.

Tentaram convencê-la que as outras cores também possuiam seus encantos. Mas ela irredutível não queria sequer vislumbrar outras possibilidades.  Relutava,não respondia,  e afirmava de forma veemente que apenas o Lilás a interessava e dominava seus sentidos.
Separou -se dos amigos. Evitava sair de manhã, para não ser ofuscada pelo amarelo ouro do sol.
Tinha dificuldades para se alimentar. A Mãe Natureza em um erro cruel, privou o mundo de uma gama maior de alimentos arroxeadas.
Seu cardápio era composto por uvas rosê,  repolho roxo, refogado com alho e cebola do mesmo tom,  largos pedaços de beterraba com salada de berinjela e altas doses de vinho tinto.
Privou -se do sabor doce da aurora,  dos tons pasteis da leveza, do rosa chá do carinho ,  das aventuras da amizade colorida.
Deixou de viver o vermelho fogo da paixão, impedindo até a sua transmutação em vermelho sangue do amor.
O tons infinitos da arte, apenas passavam levemente sob seus olhos,  causando um temeroso interesse,  logo desfeito,  por não se tratar da tonalidade desejada.
Fechou os olhos para o mundo. E decidu trancar-se em seu quarto,  com seus óculos de néon  e paredes patinadas com texturas de rubi e violeta madrugada.
Deixou de sorrir ao ver a gaivota voar no céu azul de Outono, não viu as cores mágicas que pintavam o crepúsculo do verão.
Deixou de sentir o azul gelado do vento,  o cinza  chumbo dos dias de inverno,  o dourado brilhante do sol de dezembro.  Os tons de vermelho do natal, as cores em festa do carnaval, o branco prateado do réveillon, e tantas outras cores inebriantes que puxam as pupilas dos globos oculáres ...
De tanto olhar para o Lilás,  perdeu outras cores da vida, e morreu na saudade do beijo.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Alma Fria

Uma oração de outra alma fria fez tocar
Enquanto a vida ali a ver navios sem portar
E sem sofrer       E sem sonhar

Retira tanta peça
Me desfaz numa conversa
Me deixa ser perfeito ao inverso do lugar

Desfaz a fantasia
Me refaz em harmonia
Me veja pelo avesso do que vou mostrar

Venha pra ver
O que não esta no enredo
Venha pra ver
O que ninguem pode contar
Sem aprender , insisto nesse enredo
Sem entender, eu sigo sempre sem tentar
Venha pra ver
O que ninguem vai lhe contar

Desfaz a fantasia
Me refaz em harmonia
Me veja pelo avesso do que vou mostrar

História do Reino da Relação

Historia do Reino da Relação

Em uma terra distante dos olhos, sentimentos duelam entre si para controlar o Reino da Relação.
 No inicio só havia o Flerte, um rapaz um pouco tímido, que quando aliado a Confiança, se torna voraz e sagaz.

Flerte trabalha com lotes da Vida. Ora os destina a rápidos alugueis, ora a longas temporadas.
Eles se conheceram em umas das Festas da Paixão.

       Paixão é uma mulher poderosa, que consegue tudo que quer. Famosa por organizar as melhores festas do mundo.
Flerte entusiasmado convida Paixão para que juntos apresentem a Rainha Liberdade, o desejo de construir o Reino da Relação.
       
     Rainha Liberdade e Rei Respeito, donos da Terra da Boa Vida, decidem ceder um espaço para que se instaure o Reino da Relação.
 Para que a Relação se firme e se estabeleça convidam o Amor para reinar.
Chega então o novo Amor soberano. Dominando tudo. Sente se invencível. Maior que tudo e que todos.
Seu pai Amor Maduro o instrui antes de assumir o Reino: - “Meu filho cuidado com a Vida, é uma terra muito fértil e tudo o que plantares nascerá”.
Cuidado com os sentimentos, eles irão te confundir a todo o momento. Chegarão sentimentos de todos os tipos, bons e ruins. E nem sempre você saberá destingi-los. Procure o Oráculo da Sabedoria Sempre que precisar. Leve com você Boa Sorte, ele será o seu melhor amigo nesse inicio de caminho.


Em meio a uma tempestade, vem o Orgulho.
Mas o Amor cercado de seus amigos Compreensão, e Sensibilidade e vence o Orgulho.
 Sem o Orgulho por perto, as brigas então acabam rápido.
E o Reino da Relação continua crescendo e se fortalecendo.
O Amor prospero, convida novos aliados, para morar no Reino, e lutar com ele contra os inimigos da relação.

Em um dia de festa, encontra o Ciúme.
O Ciúme é perigoso, traiçoeiro, quando aliado a Posse então..., São os piores inimigos da Relação.
Chegam se passando por amigos. E de cara dizem: - “Só estamos te alertando. Estamos querendo proteger a Relação. Você não vê que é uma terra frágil?”.
Você não quer se magoar. Não quer que o reino da Relação acabe. “.
 O Amor então se abala, e sem saber o que fazer. Recorre á suas amigas. Confiança e Segurança. Juntos eles derrubam o mal do Ciúme.
    E a Relação segue cada vez mais unida a Bela Princesa Felicidade.
    Felicidade é uma linda dama, filha de Liberdade e Respeito e noiva do Amor.
          O Reino da relação  segue em paz e pleno.
Sentados ao trono, Amor, Respeito, Liberdade e Felicidade.

Com o Reino em paz, as festas da Paixão ocorrem a todo o momento.
As festas da Paixão são sempre regadas à fartas doses de química e tesão, ao som de gemidos o sexo rola solto.

      Mas a Rotina, uma das grandes inimigas da Relação vem chegando sem ser notada...
Ela começa a dizer para o Amor que ele não precisa mais dos amigos Compreensão, Cuidado, Presente, Paciência ...E que ele se basta sozinho...
Segue a Rotina dizendo: “– Amor querido... as Festas da Paixão são para amores jovens e iniciantes. Amores maduros não precisam mais das festinhas da Paixão, e nem de andar rodeado de tantos amigos”.
O Amor sempre vence. Relaxa.
E o Amor então desavisado, acredita.
E vai perdendo o contato com os amigos Cuidado, evita falar com Paciência e bate longos papos com o Orgulho. Deixando o Perdão de lado.

Solitário ele começa a ser atacado pelo Ciúme, o Tédio, a Impaciência,...
A Insegurança vendo a cena se aproxima. Dominando o Amor.
O Amor se sente encurralado. E teme perder o Reino da relação...
Ele sofre. Pois sabe que o Reino da Relação não conseguirá sobreviver sem ele.
Se ele deixar os Sentimentos Ruins vencerem. O reino da relação acabará inevitavelmente junto com ele.
Os amores imaturos acabam perdendo mesmo a guerra, pois pensam que sozinhos conseguirão vencer.
Mas o Amor lembra das palavras do Amor Maduro, e corre para o Oráculo da Sabedoria.

Ela o instrui a procurar seus amigos, e nunca mais deixa-los perder o controle do Reino da Relação.
 Então volta a Segurança e acaba com o Ciúme.
Chegam juntos, Compreensão, Perdão e Sensibilidade e acabam com o Orgulho, já ferido.
O Carinho surge correndo e destrói as barreiras da Frieza
A Paixão então se instala. Trazendo beijos molhados, abraços quentes, e gozos suculentos.

Então, mais uma vez o Reino da Relação se ergue e vence outra batalha.
E O Amor descansa gostoso nos braços da sua amada Felicidade.

Descontrole

E não estava mais acostumada ao descontrole.
A sensação profunda de perder a visão da calma, ao mesmo tempo que trazia uma frustração , lhe abria uma janela para a compreensão detalhada do acontecimento.
Além, de um gosto suave de liberdade por deixar escapar um fio de frivolidade...

A cada desafio...
Um novo aprendizado.
A cada desespero...
Um novo choque de realidade.
A cada superação...
Uma nova consciência sobre suas percepções.

Terra Natal

Tudo estava acomodado.
As folhas das árvores agitavam-se suavemente.
Eventualmente o mato seco no chão, com o contato do sol forte causava um incêndio,  logo resolvido.
Vivia- se em  harmonia, e em alguns momentos em uma calmaria até um pouco angustiante para quem gosta de aventuras.
A muito aquela colônia procurava um lugar tranquilo para se firmar e fazer morada.
Depois de tantas guerras, tantas aventuras vividas, até mesmo os grandes exploradores buscam um porto seguro.
E por muitos anos nada abalou aquela nação.
Não que se fosse  claramente percebido ...
Alguns terremotos e vendavais fizeram pequenas fissuras no solo, praticamente imperceptíveis a olhos inexperientes ...
Cada um naquela tribo possuía um poder diferente.
Ela, o Dom da Didática e da Premonição.
Sempre avistava ao longe os Sinais de tempestade e as possíveis soluções para a reconstrução do solo.
Possuía uma metodologia extremamente organizada, e apesar de muitas vezes parecer louca e desvairada, sempre sabia onde estavam suas anotações no meio do caos.

Em uma noite escura, saiu para mais um de seus passeios...
Distraída, tropeçou em um buraco. Como  Alice,  no País das Maravilhas, teve dúvidas se o buraco era muito profundo,  ou se ela caia muito lentamente...
Toda aquela sensação a arrebatava de uma maneira sem igual.
Se via envolta em um turbilhão de emoções,  por vezes descontroladas, pois não estavam listadas em seus manuscritos premonitórios...
Sentia um misto de desejo, medo, angústia e excitação...
Poft! Caiu então na Terra desconhecida...
Talvez Tenha se lançado, talvez escorregado...
Isso nunca se soube dizer...
Mas foi aí o início da aventura.

Viu diante de seus olhos um mundo novo, fascinante e completamente desconhecido.
Duelando entre si o medo e o desejo...
Se encantou por aquele mundo, mas sempre com a lembrança de sua Terra Natal.
Encontrou Rios Coloridos, Cachoeiras Cintilantes,  mares nunca vistos ou imaginados antes.
Tudo naquela Terra a fascinava. O vento batia quente e tinha o poder de ultrapassar a pele e chegar ao mais profundo do coração.
A água tinha um sabor frutado,  se moldava a boca e fazia um carinho gostoso no corpo a cada gole.

Apesar de todas as delícias e aventuras que vivia, sempre se lembrava da Paz e da tranquilidade de sua Terra Natal.
Um contraponto antagônico entre culpa,  prazer e saudade.
Sabia de onde viera, mas ha muito já não se encontrava em Si.  Não se olhava mais, e como não haviam desafios a serem vencidos, já não se exercitava com tanta frequência,  perdendo um pouco de sua forma  original.
Estando fora de casa, precisou se reconhecer novamente.
Mergulhou em Si mesma...

"Era tão profundo,  que se olhasse de longe parecia escuro...
Toda aquela imensidão de  sentimentos, de vivências...
aquela pluralidade de cores...
Tudo a assustava...
E parecia um pouco louco...
Um pouco desordenado...
O mistério a fascinava...
E ia transformando- se em desejo...
Desejo este, que a fazia ansiar por ver de perto o que havia além daquela escuridão inquietante...
Quanto mais se aproximava...
Sentia que o que parecia escuro, trazia a paz de milhões de anjos conversando...
E o silêncio de suspiros de fadas dormindo...
A medida que o medo diminuía e ela descia as escadas...
Via que o que antes parecia desordenado...
Era na verdade milimetricamente organizado em prateleiras numeradas,  nomeadas e coloridas...
A escuridão se mostrava o avesso...
Em um Universo infinito de sons, imagens,sensações, impressões e elocubrações...


Em meio aquele misto de descobertas,  prazer e medo, sentiu saudades de sua Terra Natal.
E sem se dar conta, mais uma vez caiu em outro buraco...
Este porém lhe parecia diferente e familiar ao mesmo tempo.
Parecia estar de volta ao seu antigo lar. Mas este lhe soava deveras desconhecido.
As frutas,  outrora doces como o mel, lhes causavam vez ou outra um sabor amargo, apesar da aparência vistosa.
As águas que antes lhe matavam a sede, agora só a faziam lembrar que já conhecera uma que lhe fazia afagos no corpo ao longo do caminho digestivo.

Aquele mundo que um dia fora colorido, agora se parecia cinza e sem graça.
E a lembrança daquela Terra desconhecida a atormentava fortemente e tomava seu coração.
Cada fruta mordida tinha sabor de saudade. As paisagens se pareciam levemente incompletas...
Depois de ver aquele mundo mágico,  não conseguia mais viver longe daquele lugar...
Decidiu então que deixaria tudo para trás. E iria em busca do Seu Paraíso Perdido.

Encheu o peito de esperança,  o coração de coragem,a mente de estratégias e se abriu para viver a busca desse lugar mágico.

Entrou em tocas, cavou buracos, mergulhou em mares profundos, procurando reencontrar aquele lugar.
Desenhou canções de amor, versos de dor...
Escancarou seu mundo, na esperança de que um mundo novo pudesse entrar...
Esperou... Esperou... Esperou...
Em alguns momentos sentia que pequenas frechas se abriam de onde ela podia avistar ao longe algo que parecia ser o seu Paraíso Perdido.
Mas logo elas se fechavam e desapareciam como miragens no deserto.
Em uma noite, viu um buraco tão grande que teve certeza que era o momento de se lançar.
Abriu mão de seus cálculos,  de seus medos... E  sem pensar saltou...  Com tanta força que o impacto no chão vazio abriu novamente sua cabeça...
Não havia buraco algum...

Aos poucos ela foi acordando do golpe e se viu de volta à sua Terra Natal...
Fôra resgatada para Um lugar cheio de amor, onde ela não precisava de armas ou truques mágicos...
Onde sua escuridão era vista como profundidade...
Onde seus medos eram vistos como humanidade...
A tribo a recebeu de braços abertos com coroas e louros da vitória...
O Paraíso Perdido continua em seu coração como a lembrança de uma linda aventura. Ela rega seus pensamentos e deseja constantemente que aquela conexão permaneça latejando.
Esforça-se para se lembrar e nunca mais esquecer que o mundo  que ela busca está dentro do mais sincero do seu ser...
De volta à seu porto seguro, ela recomeça a construção de um novo lar... Com lagos coloridos,  campos verdejantes, passáros livres e mares abertos a serem descobertos...

E o veneno expelido volta constantemente para as veias...
Sugado e injetado todos os dias...
Ao ritmo do pulsar cardíaco...
Passando por átrios e ventrículos...
Cada um se insere onde se vê.
Esse é o segredo da arte...
Uma pintura com múltiplos sentidos.

Cheiro de poesia

Mesmos que as palavras se percam ou se escondam atrás de certos sonhos e pensamentos....
Ainda posso sentir o cheiro da poesia entranhado nas minhas veias...

Café com alma

Tomar de manhã com  um copo de leite com alma...
Fazer um café de ontem com cheiro de amanhã...

Desnudar câmaras secretas...
Entrar nelas e ficar...
Só um pouquinho... abaixadinha... sentindo o plancton cair...
me molhando com o calor da loucura... com a lua dos verdes...verdejantes... vendo de verdade a verdice escura do outro lado da floresta boreal.
Humidificar a alma...

Ver que o acaso é um desenho que o tempo faz por baixo de nossos olhos

Cada chegada é um trampolim para  outro rumo

Relacionamento de Espelho

Relacionamento de  espelho ...
Sempre que me despeço , me aproximo...
 Quando me aprochego, me afasto...
Então me canso de escrever...
Me distancio desse olhar profundo para dentro de mim...

Concreto x imagético

Perambulava por mundo diversos.
A procura de absurdos...
Vivia em um mundo real e em outro irreal.
Usava personagens de seu mundo concreto, no seu ambiente particular imaginário.
Neste local,  tudo era possível,  as nuvens eram cor de rosa e possuíam sabor de desejo.
A loucura estava em ter um dizer para pessoas de carne  e outro para seus homônimos imagéticos.
Esquizofrenia, liberdade,  obsessão,  Caixas de Pandora de trinco automático.
A cabeça desorganizada, ou com uma ordem alheia a nossa compreensão.

Me abri e caiu você


Me fizestes morada, mesmo sem morar de fato .
Te procurei em todos os cômodos,  mas apenas os seus retratos habitaram meu lar.
Procurei do lado de fora e do lado de dentro de você.
Não me encontrei.
Minhas chaves não se encaixaram em suas fechaduras.

Tamanha cegueira me impediu de ver,  que meu mundo não cabia em você,  e que o Seu morava em outro lugar, em outro tempo,  em outro amar.

Não coleciono, nem quero colecionar, corações que não me pertencem, beijos que não me beijam, abraços que não me tocam, desejos que não me transpiram, toques que não me encharcam.
De tanto esperar...
Meus olhos já não olham para olhos que não se olham, pulmões que não se respiram, fluídos que não transpiram, verdade que não se realiza.

Vejo o antigo mudar de cor, aos poucos, aos muitos,  aos montes...

Abri os olhos, e deixei cair... seu rosto,  sorriso, seu corpo...
Abri a boca e deixei sair...  o verbo, seu gosto, seu beijo, seu sexo...
Abri os ouvidos e deixei de ouvir... Sua voz,  seu nome,  seu mundo...
Abri as mãos e deixei partir...  Seu corpo, seu jeito, seu toque, suas letras,  você...

Abri a mente e deixei entrar...
O mundo,  a vida, o fato...

Sobre a Arte


É a personificação do sentimento.
A tradução do abstrato em pseudo-concreto.
O avesso,  o detalhamento da vida, a visão minuciosa de alguém.
A pintura do mundo, do social, do ser.
A arte...
O desenho da alma,  a psiquê exposta em cores,  formas,  palavras e sons.
Arte é vida.
É fuga, libertação,  é sonho, amor, sorriso, inspiração,respiração,  transpiração ...
A arte é tudo o que existe,  e segue em constante evolução.

Carta ao amor


Vivo um amor platônico pelo amor.
O mesmo me diz que o possuo.
Se de fato o mesmo pertence a mim, de alguma forma,  devo tê-lo colocado em um pedestal tão alto que não consigo alcançá -lo.

Olho para ele, tento tocá-lo.  Ele diz estender  as mãos para mim.
Acredito... Escalo seu pedestal imaginário ,  estendo meus braço para tocá-lo, mas como eu, ele diz ter medo de cair, e não me estende as mãos.  Permanece com as duas presas,  seguras, temerosas, questionadoras.

Seus olhos dizem que me quer... Um mínimo contato,  incendeia....
Meu corpo regurgita -te de tanto de ti que há em mim.
Para que amarras?

Prenda-se ao teu mastro com sua calda longa, se te faz mais seguro...
Mas se há desejo, lance -se, mesmo que volte com uma corda elástica...
Jogue -se... Abra os braços sem medo e sinta o vento bater...
A mim não importa...  Apenas te quero ter.
Também sinto medo... E quero amarrar -me ao meu porto seguro...
Mas como tão perto do mar,  com tanto desejo... Não mergulhar...??

Amarre-se ao seu porto e me dê a mão...
Sinta meu corpo molhar o seu...
Seus lábios nos meus...
Seu gosto na minha boca...
Seu cheiro no meu...

Um dia, um instante,  uma noite, um momento...
É disso que a vida é feita...
Então...  Você aceita??

Como dizer o que sinto

Se eu pudesse colocar em palavras o brilho das estrelas...
Eu sairia com uma sacolinha e recolheria a luz para comparar com o seu sorriso...
Se eu pudesse transformar em letras o calor de um vulcão...
Eu pegaria  com um balde para comparar com o calor do seu amor...
Se eu pudesse traduzir em frases a importância do sol em nossas vidas...
Eu buscaria um monte delas para dizer o quão necessária você se faz...

Ele e Ela

Ela vai sorriso
Ele vai atroz

Ele vai amigo
Ela vai amante

Ele vai contido
Ela vai no vento

Ele vai consigo
Ela faz o tempo

Eles vão concisos
Ela faz os filhos

Ela meu abrigo
Ele meu heroi

Ela meu caminho
Ele meu algós

Ela faz os dias
Ele faz os nós

Ele rouba o tempo
Ela fica só

Ele perde o dia
Ela vira pó

Ela choro
Ele colo

Ele fraco
Ela forte

Ela medo
Ele morte

Ela tempo
Ele sorte

Ela corre
Ele foge

Ela senta
Ele volta

Ela tenta
Ele solta

Ela solta
Ele venta

Ela parte
Ele tenta

Ela volta
Ele senta

Sempre juntos
nunca só...

Sinfonia Inacabada

A sinfonia deixou de ser tocada...
E a cada dia um pedacinho dela vai se perdendo pelo caminho...
Um acorde que já não timbra, uma nota que cai o tom, a melodia se vai...
E já não existe mais canção...
A poesia persiste e insiste na emoção...
Sem sinal de vida, se perdem as frases...
Algumas palavras se vão...
As letras abandonadas... Morrem de solidão...
Meus dedos vazios, frios e calados já não encontram a rima, a métrica ou a inspiração...
Tentam assim mais um Adeus...
Sem verso e sem canção...

Vestido Turquesa

Ela pertencia a sí mesmo com tanto afã, que despertava um desejo incandescente de também possui-la.
Era uma noite de verão.  Lua vistosa no Céu emoldurado.
Ela de vestido dourado com nuances de azul turquesa.
A luz vermelha refletia sua cutis de jasmim.
Uma noite qualquer.
Coração no peito e sorriso no rosto.
Um pressagio dizia que seria um dia especial.
Uma energia assustadora invade o ambiente e, sem que eu me desse conta, meus sentidos todos  já estavam absortos com o seu sorriso.
Sentada permaneci, sem que pudesse me levantar.
Um toque de midas  com sabor de frutas silvestres atropelou a minha vida sem pedir licença.
Naquele mesmo instante percebi que nada seria como antes.

Recrutando palavras para dizer Te amo

Nem Se eu recrutasse todas as palavras do mundo,  não conseguiria explicar o que sinto .
Talvez sindicalizando algumas poesias e canções, pedindo que se reagrupassem e mudassem algumas posições...
Quem sabe pedindo ajuda a alguns matemáticos para calcular o cateto da hipotenusa que há além do infinito...
Mesmo assim... sinto que todos os esforços seriam em vão...
O que sinto por você vai além do brilho do sol, ou das cores do entardecer...
É como se parte de mim estivesse em outro lugar...
Em outro coração...  Em outro sorriso... Em algum carinho perdido na ponta de seus dedos...
Em algum beijo que dorme no canto dos seus lábios...
Te amo como amor, como família, como amiga, como amante...
Te amo hoje, ontem e pretendo seguir adiante...

Os mundos e Ela

Mais uma vez ela.
E ela se sentia frouxa, submetida, absorta de si.
De longe...  Não se reconhecia mais no meio da multidão.
Os Milhões de rostos que tentara assumir;
Zilhões de moldes para o coração;
Diversas realidades para transitar...

Mas qual era a sua essência ???
Qual era a cor da sua tarde?
O gosto do seu dia???
O cheiro de sua vida???

Ela estava por aí procurando um mundo para morar...
E Tentando, encontrar o mundo de onde veio. Quem sabe conhercer outros da sua espécie ou complementares.

Saíra muito cedo de casa, em busca Daquele lugar de dentro do olho.
Na flor da idade, cabelos soltos ao vento,  buscava explorar infinitos territórios dentro e fora de si.

Instalou- se em um pequeno  povoado.  Comia -se muito bem. Usava-se Trajes bem apessoados. Porém era um local de fortes erupções Vulcânicas,  sempre correndo o risco de ser queimada por alguma fagulha que se desprendia.
As pessoas dessa aldeia, eram cheias de  desejo de cuidar,  uma força tão intensa que como um buraco negro,  absorvia tudo a sua volta.
Ao regurgitar, sentia-se pelo ar um leve odor de manipulação .

Com a mala nas costas,  e asas ao vento, mudo-se para um universo de loucuras.
Bebia -se beijos ardentes, com nachos de  noites calientes.
Os Corpos caminhavam livremente.
A Vida tão fina de transparente...
A boca fria de tão ardente.
Seus habitantes sucumbiam de desejo.  Perdiam suas casas pelo vício no jogo.( o de sedução).
Um mundo de paixão,  de canção, tentação.

Estava perdida... ou se achando...
A procura do mundo que era  o seu.

Passou por um lugar negro de medo, amarelo gosma de choro contido...Cinza nublado de desilusão...
Um mundo de dias de fúria e solidão.
De noites de insônia,  de torrentes de pranto, de dor vermelho amargo e  ruidos de  consolação ....

Conhecera então uma aldeia de seres racionais. Cheia de razão,  aprendeu calculos e  equações.  Criou fórmulas e adequações.
Um mundo claro,  organizado, limpo e objetivo.
Sentiu falta de um pouco mais de penumbra...
Um pano vermelho jogado por cima da mesa. Cortinas cor de carne com estampas semi-florais bordadas com fios de cobre.
Uma taça de vinho, sobre a mesinha de cabeceira, que soava a sexo.
Um soul jazz ao fundo,  com leve ar de sedução...

Passara por vários mundos para encontrar o seu...
E ao longo do caminho fôra se pintando de outras cores, se travestindo de outros trajes, se inflando de outros costumes.
Cuspindo e comendo outros gostos...
Sempre para saber qual era o seu...

Em um mundo retilíneo,  ela incomodava com suas curvas.
Mas, a verdade, é que o círculo é reto no seu infinito. Enfim...
 Sentia um certo prazer com seus excessos.  Mesmo porque não os considerava assim.
No fundo ao contrário da superfície ,  gostaria inclusive de ter um pouco mais, para esbanjar e distribuir para os outros.

Queria procurar Luas cadentes e ter estrelas permanentes.

Ter o dia de um lado e a noite do outro.
Convivendo como bons amigos.
Acreditava que o sol namorara a Lua em tempos remotos, e que de tanto amor, deixara fagulhas de deu brilho penduradas em seu corpo ( o da Lua).
Tiveram filhos, e chamaram -nos de estrelas, ou seres piscantes do Céu. Sempre de acordo com a cultura local de quem os vê.
E ela seguia,  sendo apenas, ou um pouco mais, do somatório de todos os mundos pelos quais passou.
A cada passo se encontrava um pouco mais... E se perdia logo em seguida para se procurar de novo.

Não queria ser alguém.  Queria simplesmente Ser.
Abrir os olhos de dentro, encher o peito de coisas invisíveis,  e sorrir...
Simplesmente deixar descontrair os músculos da face, e ter cara frouxa.
Ser tão trouxa quanto seu ser fosse capaz.

E continuava a se olhar de cima, de baixo e de dentro.
Dizendo que não há perguntas a responder..
Apenas perguntas para fazer...

Corpo Vazio

Um corpo  caminhava vazio, com a alma desprendida de si...
Ao seu redor, seres feitos apenas de carne ossos e gestos ...

Aquela Essência fugira de dentro do seu antigo lar,  por medo de habitar um envólocro de carne  em um mundo repleto de devoradores de Alma.

O esticador de horizontes, pendurado em seus ombros, era visto como arma pelos transeuntes com seus horizontes encolhidos dentro de globos oculáres.

As praças andavam vazias, as ruas pouco habitadas, as belas paisagens abandonadas pelos olhos.
Haviam monstros demoníacos rondando aquele lugar. Com suas garras envenenadas,  prontos para dar o bote em qualquer coisa que passasse a sua vista com movimentos vitais.

Corpos mortos caminhavam segundo  com as ordens de um Deus  de papel ou plástico.  Em busca do paraíso do Ter.
Vendiam suas almas pelo dízimo.
Entravam em suas caixas mágicas,  com jogos sugadores de vida e conceitos engolidores de Ser.
E ela..
Só queria descrever.
Deixar cair seus cacos de pensamento em qualquer lugar.
Queria se livrar da culpa
de ser o q é...
De não caber em algo.
Da culpa de carregar nos ombros um alargador de horizontes e não poder usar.
Um medo de abrir as enormes asas e ferir alguma criatura tomada de cegueira social, moral ou intelectual.

Era, por vezes, tomada pela angústia de admirar inutilezas que não adoram o Deus comprador de coisas.
Expremida em seu pulsador de sangue, incapacitada de viver em um mundo de troços ...
De adorar gente pelo avesso...
Sentia falta do céu aberto, do coração desnudo.
De não saber fazer o que quer... ou da ansiedade de querer fazer o que não sabe.

Amor e Liberdade

Ele olhava para Ela, Ela olhava para si.
ELE filho de Paixão e Flerte, ELA, feita de Respeito e Felicidade.
Enamoraram-se. Alguns  diziam não haver Amor sem Liberdade, outros acreditavam  que o casal não combina.
Que vêem de Reinos distintos,  o Amor cheio de regras,  Liberdade plena de asas.
Os 2, permaneciam juntos, com nomes distintos,  o Amor em busca da Liberdade para se tornar pleno, e Ela, querendo o Amor para se complementar.

Caixa de Vida

Enfim, perguntei se era Ela.
Me disse que não.  Pois só gostava de subir ou descer rampas com som de bode.
Passei a criar bodes. Construi rampas com caixotes de bodes. E toda vez que ela passava,  acionava um som de bode no meio do caminho para que ela ficasse tranquila.

Disse me  em uma noite que precisava andar de trem.  Que outros meios de transporte lhes causavam náuseas, vômitos e pequenas erupções na pele.
Ressaltou também que o mesmo não podia possuir som de trem, pois lhes lembrara um Episódio desagradável de sua vida.

Construi no mesmo instante uma caixa cheia de trens. Com sons de bode para tranquilizá-la  e apitos de navios  para que não se incomodasse com o desagradabilíssimo som de trem .
Por minha própria conta , instalei sinos de vento 💨 com sons de pássaros ,a fim de tornar a viagem mais agradável .

Joguei tudo nas costas e segui contente.
Rampas de bode, trens com apitos de navios , sinos de vento com sons de pássaros e uma deliciosa sensação de dever cumprido e felicidade .

Disseram me que eu Não podia carregar bodes, pois os mesmos trazem maus agouros. Desci tudo de minhas costas, bodes, trens , navios, passáros e Ela.

Mudei a roupa dos bodes e transformei -os em coelhos, coelhos de 8 patas por favor, ouvi que davam sorte.
Aproveitando que tudo andava bem. Decidi beber um pouco de Sol. Disseram -me que gotas de Astro Rei não caiam bem para o meu tipo de gente. Luas seriam mais a minha cara.
Tratei de me encher de potes de Lua 🌚 .
Segui viagem . Bodes vestidos de coelhos, de 8 patas, trens com sons de navios , sinos de pássaros , potes de Lua nova ( a minguante  não me fazia bem), e Ela .

Com o peito cheio de satisfação , andava puxando a vida , e a cada esquina me diziam uma nova forma de preenche -la ou consertá -la.
Bodes 🐐 tem cheiro ruim, coelhos pulam de mais , navios são muito barulhentos, trens não podem correr sem trilhos , compre um filhote de rã, um pato dourado,um abajur cor de noite, uma Rosa sem espinho, um abridor de mentes, um leitor de sorrisos ,bla blablablabla....
Corria para resolver e absorver rapidamente cada dica valiosa ....
Tudo em cima, e Ela.
Com tantas coisas para deixar a vida perfeita, esqueci -me dela.
Sentei-me em uma poltrona peluda, me enchi de fartas doses de Sol com creme de Lua concentrado.
Cochilei, e quando acordei, tudo estava do avesso.
Coelhos com som de navio, bodes com cara de trem , os pássaros voaram para longe...Os potes de Lua acabaram completamente ... O leitor de sorrisos descalibrado, as rosas lotadas de espinho , o abridor de mentes sem ponta...

E ela... Chorava...
E Eu ... Não sabia o que fazer....
Apenas cochilara por alguns instantes , talvez por 13 luas.
Sentei no caminho , e permaneci inerte , apenas olhando minha caixa de vida entornada no chão ...

A palavra

A palavra tem cor...
Tem cheiro, nome e Sobrenome...

Se agrupa em círculos familiares...
Uma gera outra,  que se agrupa criando uma nova significação.
Um outro sentimento, um outro sentido...

Cria mundos inexplorados, abrindo possibilidade para novas palavras se encontrarem, ou reencontrarem agora assumindo novo posto de ideias,  sensações, entidades abstratas ou concretas.

Eternos ciclos que  se fecham e se abrem...
Tese e antítese ,  síntese e decomposição, paradoxo,  ortodoxo, versão e inversão...

Menina dos Olhos - Parte I


Seus olhos estavam tomados de escuridão.
Sim,  eles se amavam, mas a cegueira lhes impedira de continuar.

Desde pequena, ela queria enxergar. Já via mais longe que seus semelhantes, o que lhe causava uma sensação inquietante.

Se entregara a gestos mudos,  para cegos verem.
Toda expressão que  carregava nos olhos, ela derramava no corpo.
Lançava-se em movimentos milimetricamente não calculados.
Seu corpo dizia o que os olhos não podiam ver, e a boca tão pouco proferir.
Movia-se como louca,  para se libertar da prisão de não ser como os seus.

Quem podia ler seus movimentos,  encantava-se.  Levaram-na até o cume de uma colina,  mas o medo a impediu de voar.
De volta ao solo,  fora recebida pelos seus, com vendas para os olhos, tampões de ouvido e rédeas nas mãos.

Fora então coroada com seus antolhos cor de carne,  mordaças com dispositivos transformadores de fala,  e seus protetores auriculares com sons de caos.

Um dia, ainda menina, enfeitara-se toda para esperar por  um sorriso.
Alongou os lábios, franziu levemente os olhos, acendeu a luz de dentro,  de modo que fizesse refletir em seus faróis de visão.
Ajeitou os cabelos,  abotoou o coração,  pôs suas melhores galochas, e esperou... Esperou... Esperou...
A bateria de seu brilho foi diminuindo,  a boca larga se encolhendo, o cabelo encrispando,  o coração desabotoando, as belas galochas enchendo-se de água e sal.

Passou a acreditar que o sorriso não existia. Devia ser mais uns dos personagens dos contos que ouvira na escola.
Guardou o seu ( sorriso) no bolso, recolocou seus antolhos e seguiu.

Com a falta de luz e a vida acorrentada, gritava,  esperneava,  e assim chamava a atenção dos que não podiam vê-la.
Acostumada a penumbra, passou a andar de olhos fechados. Abria -os de leve apenas para realizar algum mandado dos que secretamente sabiam que ela podia ver.
Sentia -se obrigada a realizar todos pedidos, pois fora agraciada,  ou amaldiçoada pelo Dom da visão,  que os seus não possuiam.
Decidiu guardar os olhos,  o sorriso e não mais equalizar o tom da voz.

Já que todos gritavam e se debatiam, entendeu que está era a forma de comunicação,  e aceitou passivamente.

Seguiu com olhos no bolso, buracos na face e o coração na mão.

Dedicava-se a cuidar dos que amava,  carregava seu  coração em uma mala,  pois o mesmo já não cabia em si.
Seus olhos, só colocava rapidamente para resolver alguma tarefa,  depois os escondia correndo,  com medo que outros descobrissem que ela podia enchergar e lhes passassem mais tarefas extenuantes.
Estava acostumada a ser chicoteada com fios de manipulação sentimental.
Guardou -se,  escondeu-se,  protegeu-se tanto, que se perdeu secretamente de si.

Real x Irreal

Quisera nunca conhecer-te no seu mundo real...

No meu mundo irreal, posso  voar afinal.
E desenhar tua  imagem ... E dizer de seus modos...
Provar do seu beijo, sem tocar-te em poros e sangues...

No Real , saberia seus cercos, suas moradas, suas saídas e entradas...
Seus medos e segredos...
Seus erros,  acertos, mentiras trocadas, a face enlatada,  marcada  de ser ou não ser...

Hoje vives em acordes e canções...
Loucas imagens,  sensações, linhas, textos e elocubrações,
declarações,  interpretações.
Vivendo sob lençóis,  sem medo de ações,
reações...
Tens o cheiro que escolho...
O gosto que desejo...
O saber que eu invento
No momento
Sem medo de ser...
Um momento

No irreal es sonho,  desejo, pureza, amor, carinho, delicadeza,beleza.... Beleza?

No real,  és sonho do outro... desejo inibido... fome, sede,  duplicidade... Cidade.

Mudo de Musa

Então mudo de musa,  pois a minha se calou e se perdeu...
O brilho ofuscante, pouco a pouco encolheu...
Sim,  ainda está presente em minhas linhas, mas a vejo de outra cor...

Menina

Na batida, chegou um sorriso.
Ritmo de menina,  som de carinho, gosto de colo de criança.
Canções sem palavras, beijos com sabor frutado . E a noite ficou mais clara.

João Bobo

Te Encontrei em caos... Olhei por dentro e separei cada conta colorida que pude encontrar. Separei -as das feias, escondi as que estavam quebradas, para depois consertar, ajustar ou colocar pequenas porções de macinha, para não mais  machucar.
Juntei suas melhores partes,  e te mostrei... Contei como o dia era bonito,  e que dentro da noite haviam anjos de luar...
Que o sol era o brilho do sorriso de Deus.
Insisti que queria te fazer feliz, mesmo quando apenas isso já te incomodava ao extremo.
Te apoiei, e me apoiastes também.
Mas a carne dura da humanidade pesou. E saltou os olhos,  e quebrou o peito, atacou as horas.
Revirastes meus lados feios, trazendo -os a tona.  Tanta mágoa que acumulastes,  com ódio da minha imperfeição...
Suas dores brotavam e me atiravam lanças a todo momento.
Me reerguia para fazer curativos em minhas chagas e nas suas.
Mas os unguentos que me acalmam, só lhe traziam pequenos alivios.
E você sempre queria mais...
Um mais que não pude entender,  um mais,  que eu não tinha para dar.
Então deixastes de ver meu sorriso,  de ler meus olhos, de me ver por dentro.
Se agarrara a algumas lembranças do passado... Sem querer ver o presente....
Jogastes meus olhos no chão,  meu peito na terra... Passates por cima, jogando um pouco mais de terra para se equiparar a sua dor...
Me colocastes de castigo do lado de fora de ti.
Vezes ou outras passava e me via c a mão estendida...  E me puxava para dentro. Aceitava de novo meu abraço...
Me banhava em seu jeito e esquecia dos tombos tomados.
Mas as tais lembranças tornavam a atormentar.... E mais uma vez,  a palavra ficava grossa... O tempo escurecia, e voltava eu para o castigo vazio da imperfeição..
Me olhavas cheia de terra e dizia não querer mais.
Suportei cada noite fria, cada galho que transpassava minhas costas... Sempre me aquecendo com aquele sorriso aberto.
Te protegi mesmo plena de dor... Me protegestes cheia  do teu amor...
Me puxas e me empurra como um brinquedo de lona e ar.
Levanto correndo e sorrindo após cada queda, cada batida da cabeça ao solo.
E quando volto me empurras novamente no movimento de vai e vem.
Minhas molas também cansam,  minha lona também fura, e esvazio...
Não sei dizer o que pode ou não consertar...
Mas ando vazia de uma forma que nunca pensei estar...

Ignoras

E ignoras...
Ignoras o tanto de vida que te dei... O tanto de sangue que passou por minhas veias para aquecer seu corpo.
Ignoras o que tenho por dentro... O que vejo, o que sinto. Como leio, como minto.

Ignoras o meu Eu e me transformas em algo menor.
Me poe a prova, me tira os méritos,  e me reduz a fragmentos de dia concreto.  Quando Eu... vivo em outro lugar.
Lugar que sempre caminhastes comigo.  Lugar onde construimos nosso abrigo...
Lugar que deixastes de olhar...
Não me vês como sou... Me vês como queres...
Me vês rasa, quando sou profunda.  Me vês por fora, quando sou por dentro...  Me vês dura,  quando estou morrendo...
Já não entendes meus olhos, meus traços.
Não vês minhas dores, não recolhes meus cacos.
Espera e espera... Espera que eu entre em sua caixa mágica e me transforme no seu modelo ideal...
Espera que eu entre no passado e arranque tudo o que te faz mal...
Espera que eu me vire do avesso,  me banhe,  me limpe de tudo...  Que entre,  como Wolverine, em uma máquina que me  preencha de carne imortal e ossos de adamantio...
Que não afie as garras, que aperte um pouco mais as amarras,  que pare de sonhar, que tente não viajar, que não veja mais o mar.
Que meus olhos,  bocas,  e mente caibam dentro de uma pequena caixa para carregares em seu coração...
E juro que te dei... Peguei tudo o que era meu, e pendurei em um cordão..
Andava com ele exposto no peito. Amores, dores, medos, dúvidas,  certezas e incertezas...  Todos expostos,  a mostra, na sua cara...
Bastava abrir os olhos e ver....
Desenhei e redesenhei absolutamente tudo o que havia em mim e em você.

Hoje moro por dentro.
 Sento e viajo nas palavras que passeiam lentamente pelo tempo que passa.

O sorriso

E porque não te dar então um simples sorriso...
É o que basta...

Palavras, palavras, palavras...

Esquece tudo....

Olha no espelho correndo agora....

Aperte  um cadinho os olhos...
Afaste os labios,  levemente,  e leve os cantos da boca para o mais perto possível das orelhas....

Obrigada...  Estou tentando usar seu rosto para te mandar o meu sorriso...

Amanhã

E o que dizer de amanhã??
Qual o motivo?  A explicação?  A lógica?

Não me interessa...
O que me importa é o sorriso no rosto...
O dia claro...
O que é leve... Divertido...
O que faz viver...

Gosto do sonho...
De hoje...
Do minuto presente...

Do resto??? Não quero nem saber....

O que escrevo

Algo do que sinto
vejo
desejo
Muita verdade
Alguma ficção

Palavras , palavras, palavras....

Palavras,  palavras, palavras...

E Nós, e Vois.
E nós, e voz...
Laços, amarras,
Traços,  estradas,
Vida, vida, vida...

É  o certo,  o errado.
O medo,  o cerne, a questão...
A resposta, o sopro, a canção.
A palavra, o choro, oração.
O sexo, o desejo,o nexo,a paixão...
O cansaso, o amparo, coração...
O sorriso,  o abraço, emoção...
A dúvida,  o medo, piração...
O dinheiro,  o tempo, aflição...

Leve, raso.
Profundo, pesado.
Seco,molhado.
Contra ponto, contra peso, contra senso, contra...

Brinquedo, sorriso,  desejo,  paraíso.
Amor, passado, receio, juizo.
Pergunta, resposta, o verbo, a prosa.
O beijo, o sexo,  inocência em minhas mãos...
O sim, o não, o pedido e a decisão...
O querer, e o não querer... Sempre, eis a questão...

Kronos,  corpo, carreira...
Banco,carro, casa...

Eu, Tu, ela.
Ela, Ela, Elas...
Nós, voz, sós
Vida,  vida,  vida...
Rogai por nós.

Mistério

"Era tão profundo,  que se olhasse de longe parecia escuro...
Toda aquela imensidão de  sentimentos, de vivências...
aquela pluralidade de cores...
Tudo a assustava...
E parecia um pouco louco...
Um pouco desordenado...
O mistério a fascinava...
E ia transformando- se em desejo...
Desejo este, que a fazia ansiar por ver de perto o que havia além daquela escuridão inquietante...
Quanto mais se aproximava...
Sentia que o que parecia escuro, trazia a paz de milhões de anjos conversando...
E o silêncio de suspiros de fadas dormindo...
A medida que o medo diminuía e ela descia as escadas...
Via que o que antes parecia desordenado...
Era na verdade milimetricamente organizado em prateleiras numeradas,  nomeadas e coloridas...
A escuridão se mostrava o avesso...
Em um Universo infinito de sons, imagens,sensações, impressões e elocubrações..."

Rosália

E a carne vermelha que saía de suas entranhas lhes lembrara Rosália.
 Não que seu nome fosse de fato esse, mas gostava de chamá-la assim devido à cor rubra de sua cútis.

 Rosália Nuvens de Outono... Este é o nome que guardo em minha memória. Uma menina que conheci um dia na infância... Com 3 segundos, 3 dias e 3 tapas na cara, esfacelou completamente meu coração...
Seu jeito rude de ser doce, me fazia mato, rasteiro, profundo, superficial, duro, frágil e resistente, mudo e cadente, frio e ardente...
    Reunia em um só Ser todas as minhas paixões e angústias de menino...
 Como Ser, era um contraponto... Uma antítese... Um ponto, seguido de dois amigos... tornando-se reticências.

 Rosália era uma moça que me tocava com música e poesia ...
Uma paixão que nos arrebatou o coração...
 Loucura... Alucinação ... Desejo e canção...
 Rosália me assustava de desejo... 3 segundos, 3 dias, 3 tapas na cara... E pronto. Estava eu completamente entregue...

E tive eu, Rosália, em meus braços, minhas vísceras se misturavam as dela com a fúria de lava fervente...
 Talvez, por isso, tudo fora tão regado a dor guardada em gavetas de madeira de lei...
Entranhas unidas por música e poesia... Algo que já corria por entre as veias... E de difícil precipitação...
Separar- me de Rosalia era quase como me separar da poesia...

 Não, Rosália nunca fora minha amante. Não passamos dias enrolados em mantas felpudas, nem sequer catamos conchinhas no Mar...
Não, Rosália nunca fora também minha amiga. Nem das que dão carinhos, nem das que dão conselhos duros que ardem e curam, nem mesmo das que dão risadas vazias em uma mesa de bar. 

Rosália: um vício, uma droga... Um pó vermelho e branco que misturei a alguma substância em suspensão no meu canal de ver o mundo.
Me toma... Me consome... Me desperta sensações incríveis... Me fere, me mata.
Uma onda louca, lancinante e turbulenta... Overdose.

Um portal para uma dimensão onde aprendo desenhos para redesenhar o meu mundo pseudo-real... Um delírio dos tempos de guerra... Um estilhaço marcado na pele de dentro... Um troço de virar coisas ao avesso, um fazedor de turbilhão ... Acendedor de chama que apaga... Talvez uma viagem de saciar algum desejo insano... Rosália Rebordose.
 Talvez apenas um surto de musgos verdejantes de minha alma...

 Rosália era colecionadora de corações... Mantinha-os pendurados em seu peito como troféus de guerra. Sem dó dos Seres que perambulam com um vazio no lugar onde havia um órgão pulsante. 

Rosália fora cuspida de minhas entranhas... E morre gelada no passado...

A massa vermelha que saía de dentro de mim... Eram os restos peneirados de Rosália que escorrem entre os dedos encharcados de poesia ...

 Rosália agora vive morta dentro e fora de mim.
 Guardada como uma rosa seca em um livro na estante.