segunda-feira, 18 de julho de 2016

O mistério da Fé

Então você lê no presente, coisas que ficaram no passado.
Vê no real, coisas que são do irreal.
Na mente solta , as coisas se passam de outra maneira.
O pé da letra , mora em outro lugar do corpo, talvez na orelha da letra, ou até quem sabe nos olhos ou no fígado da mesma.
O delírio evaporado cria  mundos , histórias, estórias e textos fictícios baseados em fatos reais.
O enorme, muitas vezes é pequeno.
E o pequeno, tem cara de irrealidade...
A realidade, é sonho...
O sonho, loucura...
A loucura, tinta, pincel, argila ou cinzel...
As palavras são desenhos...
Imagens de que??? Do nada!
De um mundo que não existe além do que se passa como um filme com personagens insanos, representados muitas vezes por pessoas reais.
Confundir o personagem com a persona é algo comum para os espectadores, porém, tomar como real o irreal é um ledo engano.
Na vida que mora atrás da arte, nem tudo o que reluz é ouro, nem tudo o que traduz é frase, nem tudo o que se fala, diz, nem tudo o que se ouve é som, nem tudo o que ilumina é luz...
Ou é....
Eis o mistério da fé.

domingo, 3 de julho de 2016

A velha mochila

Ouvia histórias de uma outra nostalgia, que rasgava o peito feito um estilete esquecido que  fura sem propósito a lona da mochila de um estudante do ensino médio.

Começa com pequenas ranhuras inocentes e rompe a parte rígida de plástico que arremata as bordas.
Um caderno jogado aqui, um livro alí, empurram o objeto cortante mais para dentro da carne da mochila cardíaca...
Uma pequena ponta brilhante ultrapassa o pano.
Um furo imperceptível passa batido, sem deixar grandes preocupações.
O tempo larga suas gotas e o ano letivo segue. Com o uso descuidado e o esquecimento,  agente causador da lesão vai sendo escondido sob livros , canetas e pedaços de maçã passada.
Das pequenas ranhuras surgem furos, dos furos - buracos, por eles escapam pequenos grampos, depois lápis, canetas , compasso, transferidor, borrachas....
Procuro minhas coisas e já não encontro...
Juro ter esquecido em outro Lugar, e peço emprestado a um amigo aqui, outro acolá....
E sem me dar conta do dano, arremesso sem critério de um ombro ao outro a companheira de escola.
De tanto peso em cima do furo,  tudo começa a romper....
Por não procurar os livros com frequência, sinto uma certa leveza nas costas, mas não busco saber o porquê...
Levanto displicente a tampa de uma carteira escolar de filme de sessão da tarde, guardo minha velha companheira , e parto pro Recreio.
Em um outro dia ,mato aula e ela fica abandonada entre  a solidão de 4 placas  de madeira no caixote da sala do diretor.
A deixo entre traças no quartinho usado como dispensa no fundo da casa...
E no dia da prova, vou até minha velha mochila pegar meu material de estudo...
Ao segura -la desta vez com mais atenção, sinto que seu peso está mudado, abro o zíper emperrado com certa dificuldade, e ao procurar minhas coisas, já não encontro mais nada.
O coração dispara, passeios as mãos de um lado a outro, esfrego com certa ansiedade todos os cantos da velha sacola de nylon...
Acendo a luz, uma pequena lanterna de bolso, coloco os óculos de grau no lugar dos óculos escuros..
E nada. Não há mais nada lá dentro, nem caneta, nem borracha, nem livro , nem caderno, compasso , transferidor, calculdora, papel ofício, tudo se foi...
Indignado, viro ela do avesso, e encontro às marcas do velho estilete ignorado no fundo da mochila.