Jonas era um rapaz simples que vivia em uma aldeia em Sortilopolis.
Trabalhava no campo, enchada na mão, sementes nos bolsos, uma grande sacola no lombo e o peito repleto de mágoa mal resolvida.
Aprendêra desde muito cedo a beber água de mágoa. Sua mãe Dona Clotilde , sem querer deixava cair pequenas porções de mágoa guardada toda vez que preparava sua mamadeira , e mais tarde suas refeições.
Dona Clotilde era uma senhora muito caridosa e sempre procurava ajudar a quem pudesse , ensinando a lição ao seu filho Jonas.
Jonas cresceu com brilho nos olhos, bom coração , e com o desejo constante de se doar e ajudar os seus .
Todas as noites , antes de dormir e após o café , D.Clotilde contava aos filhos seus belos feitos. Contava historias sobre magos, doentes, cachorros de um olho só , sangue sugas e do grande perigo da cobra da ingratidão . D.Clotilde contava que por vezes fora mordida por essa serpente traiçoeira em suas peregrinações para ajudar ou acolher o próximo. O veneno injetado por essa cobra chamava -se Mágoa. Não matava na hora, mas seguia circulando pelo corpo e se instalava principalmente no cérebro e no coração, dificultando a pulsação e o raciocínio lógico.
Quando a magoa se alastra , ela domina tudo, consome o amor, o carinho e a vontade de viver. Vai gelando o sangue, até diminuir o raciocínio e parar o coração.
Jonas conheceu Marluce que lhe ofereceu um belo mundo cheio de possibilidades.
Marluce era cheia de vida. Sorria, seus olhos brilhavam e ela corria loucamente pelo campos floridos da vida.
Sempre com os bolsos abarrotados de sementes, queria plantar sorrisos em todos os corações.
Alguns sorrisos eram confundidos com beijos, pois o carinho exalava um forte cheiro nas sementes.
O cheiro do carinho era afrodisíaco e um belo fortificante para outras sementes, por isso Marluce sempre encharcava suas sementes de carinho.
Fora alertada muitas vezes que o cheiro do carinho podia alimentar outras sementes e atrair olhares ou ervas daninhas.
De fato teve algumas colheitas perdidas por deixar crescer flores diferentes dos seus belos frutos de sorrisos e amizades.
Mas não por isso parava de jogar fartas doses de amor e carinho em tudo o que plantava.
Gostava daquele cheiro doce entranhado em suas coisas.