terça-feira, 4 de abril de 2017
Pensamentos fotograficos
Eu a via estatística, parada em um momento fotográfico...
Era como se ela saltasse em carne e vidro pela tela da minha caixinha de ver o mundo...
Eu podia sentir a textura de sua pele em meus dedos no instante em que lançava um coração na cara daquela fotografia cheia de filtros e tratamentos estéticos...
Parecia feita de porcelana e seda..
Com caras e bocas e gestos e sons...
Na rede social, em uma canção ou em um outdoor de beira de estrada..
Um nome que não era aquele , mas que me fazia lembrar ... assim como aquele cachorro, aquela música, aquela cor, aquele lugar...
O cheiro de um mistério encondido em baixo de um tapete do passado..
E ela seguia com o olhar preso em uma pose ou uma série de fotos em movimentos de frames binários...
E a prisão daquela mente bipolar , querendo um porto seguro e um lugar para voar...
Não sei por que simplesmente não soltamos as mãos da corda e fincamos nas pedras que se seguem na escalada a um patamar diferente???
Sentir a estabilidade de cada pedra, equilibrar, acreditar...
Gozar a delícia de achar uma agarra maior, ou a adrenalina de estar apoiada em uma menor...
Mas vem um medo...ou até mesmo um pavor...
Um frio que dá na barriga, aquele gelar da espinha...
E o ciclo seguia todos os dias...
Ela desfilava, na frente dos meus olhos internos, enquanto eu, passo a passo caminhava na calçada em direção ao ponto da lotação. ..
Ela sentava displicente sobre meus pensamentos...
Pernas cruzadas, cigarro na mão, lendo grosseiramente o meu livro de cabeceira, a meia luz, no canto da sala de televisão ..
Seus cabelos, levemente caidos no rosto, se confundiam com a sua boca vermelha cor de fogo...
A pele clara como as nuvens da manhã.
Na minha mente ela me olha nos olhos, depois de cima a baixo, esboça um sorriso maroto, torna a mastigar seu chiclete, joga o cabelo, e desaparece batendo a porta da minha calora craniana.