domingo, 16 de abril de 2017

A meretriz

A Meretriz

E quando ela esbarrou no amor em pessoa, se apavorou...
Muito tempo que  não o via...

Ouvira dizer que existia...
Que era parecido com um príncipe encantado ,vinha de cavalo branco ou alado...
Que sugira feito uma luz cintilante,  e escorria  abundantemente do coração ...
Sentiu medo, e desejo no mesmo instante.

Ela me contou que  não lembrava da última vez que tinha encontrado o amor...
Não sabia o que era respeito e não esbarrava muito com o carinho...

Morava em uma terra onde beijo era um outro homem.
Barbudo , com bafo, mão pesada, um cheiro de morte, e nenhum sorriso na cara ...
Carinho era um tapa , um pouco mais devagar...
A sineta do fim de expediente não a fazia voltar...

Ela então decidiu dormir e nunca mais acordar...
Trancou o peito , jogou a chave fora... E Jurou que nunca mais iria achar...

De tanto sentir, parou de falar, a mente calou...
Desligou o corpo ..
E embriagava a alma para suportar...

Abria uma janela por dentro..., e lá , não parava de chorar...

De tanto alagar, virou mar...
Deixou de fugir e passou a vagar...

Ouviu dizer que com fé, até um elástico  pode curar...
Custou a acreditar quando disseram que mesmo sem ver, é possível olhar.
Ouviu dizer que depois que se vê, é impossível apagar.
Parece que  imagem se materializa dentro de você.
E mesmo que guardada em uma gaveta no quarto , é possível abrir e tocar, sentir, olhar, molhar e até comer...
Dizem que uma vez que se viu o mar... Você passa a ter mar ...
Uma vez que se viu o amor...
Você passa a ter amor...
Uma vez que se viu a felicidade, você passa a ter felicidade...

Mas o medo se sobrepunha...
Um medo de que aquilo só existisse naquele lugar...
Aquele  medo de tanto ir e não ter pra onde voltar...

Mais uma dose, uma droga, outra noite mal dormida...
Outro corpo indesejado...
Outro desejo apagado...
Outro plano revirado..
Outro sonho acabado...

E a carverna no peito vira pura escuridão...
Não há coração, não  há carne, não há sangue, nem suspiro, nem gozo, nem espelho, nem dor , nem satisfação, nem vazio e nem razão...
Um abismo se instala...
O Prazer é profissão...
O corpo escritório, e o tempo escravidão...
O sorriso uma máscara e a vida,  uma ilusão...
A esperança é um deserto, o aconchego , a solidão...

Então ela corre  para o espelho para se envolver com alguma outra emoção...
Lembra de  uma história que ouviu , onde nomes assumiram outra posição...
O amor , virara dor...
Doação ,  solicitação...
Quietude passou a agir como tempestade...
E desafio , ocupou o lugar da oração.
O medo era coragem...
E coragem  passou a se chamar ambição...
Amigos eram anjos e a paixão ostentação...
O tempo era hora...
E palavras , pura abstração...
O silêncio era o caos...
E o barulho ... a nossa proteção...