segunda-feira, 27 de junho de 2016

Me roubas espaços

Ela insistia em roubar espaços neuronais...
Seduzia um pensamento aqui , outro acolá.
Os empurrava para os lados, espremia nos cantos e quando menos se esperava , já ocupava o lugar de uma música, de um assunto burocrático, de um  vazio,  ou de uma simples descarga elétrica.
Entrava sem pedir licença , sem saber se comportar, sem dizer se vai sair ou vai ficar.
Dava um sorriso maroto de menina abusada, levanta levemente uma das sombrancelhas e fazia um ar debochado. de poder...
Ele  , como um menino inocente e assustado,  tremia nas bases, titubeava ,sentia um certo rubor na face , umas mariposas na parte baixa do abdômen, mas voltava a falar.
Estufava o peito, respirava toda a segurança acumulada no bolso , e economizada ao longo de pensamentos sem fim.
Separava  apenas poucas palavras previamente escolhidas como feijão da roça,  e na certeza incerta da falta de sentido, tropeçava em um querer descabido e deixava escorregar por  entre os dedos três ou quatro frases que deveria guardar...
Sintia um misto de prazer e ódio...
Em uma confusão mental ,os lábios perdiam a elasticidade e se alargavam, levantando suavemente as bochechas...
Uma certa luz  surgia nos olhos , como satélites disfarçados de estrelas em noites de lua cheia.
Os pensamentos surgiam e desapareciam  como as ondas daquele mar semi poluído onde tudo começou...
Com eles, a vontade de um cheiro que  já não lembrava, um gosto que não sabia o nome, um beijo que não fala a mesma língua, um toque que segue tatuado na ponta dos dedos, um vento que  perturba, uma voz que sussurra sons entorpecentes, e a constante imagem que se espalha por dentro dos olhos como a cegueira do diabetes causada pela falta ou excesso de açúcar...

Sentia sua presença passear livremente pelo corpo, escorregar neurônios abaixo como criança no parque , deslizar pelos braços e cair pelos dedos como notas musicais em forma de letras.
Escutava o vapor dos seus lábios nos dele ao ouvir as palavras por dentro quando elas caiam indiscriminadamente a sua frente. Era como se cantasse na sua boca as  palavras por ele escritas...

Em um delírio ele Imaginava aquele beijo cheio de palavras, música e poesia.

Ele a guardava nas gavetas das lembranças, mas ela ,exibida que é, insistia em ficar exposta nas prateleiras da estante.

Ele senta, e olha para ela como um  livro que nunca leu por inteiro...
Esboça um sorriso de menino levado, lê 3 ou quatro imagens, agradece a inspiração, ignora a transpiração, e se deleita na pura e simples descrição...