domingo, 3 de julho de 2016

A velha mochila

Ouvia histórias de uma outra nostalgia, que rasgava o peito feito um estilete esquecido que  fura sem propósito a lona da mochila de um estudante do ensino médio.

Começa com pequenas ranhuras inocentes e rompe a parte rígida de plástico que arremata as bordas.
Um caderno jogado aqui, um livro alí, empurram o objeto cortante mais para dentro da carne da mochila cardíaca...
Uma pequena ponta brilhante ultrapassa o pano.
Um furo imperceptível passa batido, sem deixar grandes preocupações.
O tempo larga suas gotas e o ano letivo segue. Com o uso descuidado e o esquecimento,  agente causador da lesão vai sendo escondido sob livros , canetas e pedaços de maçã passada.
Das pequenas ranhuras surgem furos, dos furos - buracos, por eles escapam pequenos grampos, depois lápis, canetas , compasso, transferidor, borrachas....
Procuro minhas coisas e já não encontro...
Juro ter esquecido em outro Lugar, e peço emprestado a um amigo aqui, outro acolá....
E sem me dar conta do dano, arremesso sem critério de um ombro ao outro a companheira de escola.
De tanto peso em cima do furo,  tudo começa a romper....
Por não procurar os livros com frequência, sinto uma certa leveza nas costas, mas não busco saber o porquê...
Levanto displicente a tampa de uma carteira escolar de filme de sessão da tarde, guardo minha velha companheira , e parto pro Recreio.
Em um outro dia ,mato aula e ela fica abandonada entre  a solidão de 4 placas  de madeira no caixote da sala do diretor.
A deixo entre traças no quartinho usado como dispensa no fundo da casa...
E no dia da prova, vou até minha velha mochila pegar meu material de estudo...
Ao segura -la desta vez com mais atenção, sinto que seu peso está mudado, abro o zíper emperrado com certa dificuldade, e ao procurar minhas coisas, já não encontro mais nada.
O coração dispara, passeios as mãos de um lado a outro, esfrego com certa ansiedade todos os cantos da velha sacola de nylon...
Acendo a luz, uma pequena lanterna de bolso, coloco os óculos de grau no lugar dos óculos escuros..
E nada. Não há mais nada lá dentro, nem caneta, nem borracha, nem livro , nem caderno, compasso , transferidor, calculdora, papel ofício, tudo se foi...
Indignado, viro ela do avesso, e encontro às marcas do velho estilete ignorado no fundo da mochila.